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Treinador de Futsal/Futebol - Coordenador Técnico Iniciação - Clube Atlético Mineiro - Graduado em Educação Física - UFMG, Especialista em Futsal e MBA em Gestão de Pessoas

domingo, 15 de janeiro de 2012

Futebol de rua, a ´´nova´´ forma de se ensinar o jogo

 

´´ A bola não tem material nem tamanho certo; na sua ausência procura-se algo que se lhe assemelhe. Sem coletes, caneleiras e muitas vezes descalços, nada os impede de jogar. Os campos, esses não são difíceis de delimitar, bastando quatro pedras para assinalar as balizas. O terreno é deveras irregular, nada que incomode, beneficiando até os melhores. As regras são estabelecidas no momento e face ás circunstâncias, não há horas nem número de jogadores para iniciar o jogo e muito menos para terminar, a noite cai mas nada os demove, pois o prazer pelo jogo é mais forte que tudo o resto.´´ (Garganta & Fonseca, 2006).

A passagem acima ilustra bem como antigamente, a maioria dos jogadores profissionais se formavam no futebol. A ´´rua´´ foi palco de vários artistas que surgiram para o ´´mundo da bola´´. Antigamente??? Sim, é claro e notório que com o crescimento e desenvolvimento das grandes cidades por inúmeros motivos (entre eles a violência) essa prática foi desaparecendo ao longo do tempo, e com ela a melhor escola para se aprender a ´´jogar´´ (englobando toda complexidade desse conceito).

Como nessa passagem que Jorge Valdano (2002) afirma: ´´A tecnologia de ponta do Futebol é a rua e a miséria. Numa partida improvisada de imediato alguém inventa algo. No meio desse combate de pés descalços, um jogador que possa não ser muito alto, nem muito forte, nem muito rápido, soluciona um problema de forma original. Com uma recepção e um toque três adversários são ultrapassados. O jogador não usa o catálogo de soluções conhecidas, cria.´´

Então para se jogar futebol, tem que ser pobre??? De forma alguma, porém os menos favorecidos são os que experimentam mais, são eles que frequentemente jogam descalços, em campos irregulares e com bolas de meia o que é fundamental para o processo de aprendizagem do jogo, pois tudo isso aumenta a variabilidade das ações, condicionando a se adaptar o tempo todo, o que gera padrões flexíveis de movimento. Tudo isso fundamental para a formação de um JOGADOR.

´´Conduzir a bola descalço, sem torcer o pé num daqueles buracos , já seria uma façanha. Driblar perto da ribanceira sem deixar a bola escorrer por ela, a façanha ainda era maior. Garrincha praticava as duas proezas com a maior das facilidades. No primeiro caso, porque de tanto ´´topar´´ com os buracos, aprendera a dribá-los junto com o adversário; no segundo, porque detestava ter de descer a pirambeira para ir buscar a bola – onde tentava não perde-la.´´ (Castro, 1995)

Os com poder aquisitivo mais alto jogam também, mas ou no ´´vídeo game´´ ou então pagam para ´´driblar cones´´.
Aí aparece a grande importância das ´´escolas de futebol´´, e essa importância não está em colocar os ´´futuros campeões´´ para driblar adversários estáticos, mas sim em reproduzir aquela realidade da ´´rua´´ que infelizmente não conseguimos mais ver a nossa volta.

Reproduzir aqui seria, criar contextos semelhantes, mas mantendo o ´´coração e alma do jogo´´.
A tarefa de quem assume a responsabilidade de ensinar é muito difícil, pois primeiro busca-se a essência do ensino, que nessa realidade era o que rua proporcionava, e depois tenta-se reproduzi-la numa outra realidade, a aula, na qual o muro que se faziam infinitas tabelas, passa a ser coringas nas laterais, que as traves que era tijolos ou pedras passam a ser ´´discos´´ que delimitam o mesmo espaço, e as regras que geravam discussões e brigas, são combinadas e construídas juntas. E a quantidade de prática que hoje são duas horas semanais, eram oito diárias. Na verdade não é tão difícil assim, é preciso só um algo mais....

Esse algo a mais irá fazer com que o aluno tome goste por aquilo, se divirta, ai a quantidade de horas praticadas não será um problema...
 
As passagens foram tiradas do livro: ´´ Futebo de rua – um beco com saída´´
(Fonseca & Garganta, 2006)

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